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Por Mariah Colombo, jogo de buraco aberto gratis PR � Curitiba
09/12/2023 05h00 Atualizado 09/12/2023
Ator descobre diagn�stico de autismo ao interpretar?? personagem com o transtorno
O ator curitibano Victor Ferreira, de 20 anos, � um exemplo de que "a vida imita a?? arte". O jovem interpretava um personagem que estava dentro do espectro autista quando recebeu o pr�prio diagn�stico.
Na s�rie "Use Sua?? Voz", Victor deu vida a Arthur, que vive com Transtorno do Espectro Autista (TEA) desde a primeira inf�ncia. As identifica��es?? com tra�os do personagem surgiram ainda nos testes para o papel.
"Eles me deram uma folha que falava sobre as caracter�sticas?? do personagem, do que ele gostava, e tudo mais. N�o estava escrito que ele era autista nessa p�gina. S� estava?? as caracter�sticas dele, que indicavam ser um personagem autista", relembra.
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Ao jogo de buraco aberto gratis, o ator conta que nessa �poca desconfiava que estava dentro do espectro e,?? com isso, foi atr�s de um diagn�stico adequado.
Victor n�o � exce��o. A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) estima que existam?? 70 milh�es de pessoas com o TEA no mundo, sendo cerca de 2 milh�es delas no Brasil.
O TEA � caracterizado,?? principalmente, pelas dificuldades em comunica��o e intera��o social, e presen�a de padr�es de movimentos restritos e repetitivos. Pessoas no espectro?? t�m uma forma diferente de vivenciar experi�ncias, agir e interpretar o mundo.
A psic�loga Karen Scholz explica que, apesar das caracter�sticas?? comuns que levam a um diagn�stico, o autismo se manifesta de maneiras diferentes em cada um.
"Tem uma frase que eu?? gosto muito, que fala assim: 'Existe autismo para cada um'. Por isso que a gente chama de espectro, vai aparecer?? de uma forma muito particular para cada pessoa", afirma a psic�loga.
Enquanto interpretava Arthur, Victor reconheceu diversas situa��es pelas quais havia?? vivido na vida real.
"Eu passei por alguns lugares que uma pessoa que � autista sabe o que � estar naquele?? lugar. Ent�o, obviamente, teve uma identifica��o de elementos. Eu vi muito da minha adolesc�ncia no Arthur. Ele passou por momentos?? que me eram bastante familiares. Acho que essa foi a minha maior fonte de inspira��o e identifica��o com o personagem",?? conta Victor.
Victor Ferreira 4 �
: Arquivo pessoal
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Diagn�stico tardio
A situa��o passada por Victor Ferreira representa um exemplo do chamado diagn�stico?? tardio.
De acordo com a psic�loga, uma pessoa que recebe um diagn�stico de autismo depois dos 18 anos pode considerar que?? foi diagnosticada tardiamente.
A profissional explica que a situa��o � comum porque o transtorno � muito associado a sinais percebidos na?? inf�ncia.
Para ela, a qualidade de vida de um paciente ap�s a identifica��o do transtorno pode aumentar. Isso porque, com o?? diagn�stico, a pessoa pode ter as necessidades espec�ficas relacionadas ao TEA melhores compreendidas, acesso a direitos legais e autoconhecimento.
"Acredito que?? o principal impacto seja em rela��o ao sentimento de pertencimento, que muitas vezes foi muito batalhado durante uma vida toda?? e, muitas vezes, muito frustrado. A pessoa acaba reproduzindo o comportamento de outras pessoas."
"Ent�o, voc� n�o est� ali sendo espontaneamente?? quem voc� �, mas sim reproduzindo comportamentos que �s vezes nem fazem sentido para voc�, mas faz para ter esse?? sentimento de pertencimento no seu grupo", detalha.
Segundo Scholz, geralmente, pessoas que recebem o diagn�stico tardio t�m um n�vel de suporte?? 1, no qual os sinais de autismo s�o mais sutis e mais "facilmente" mascarados e/ou negligenciados. Leia mais sobre a?? seguir.
Por�m, com o aumento da conscientiza��o em torno do TEA, cada vez mais pessoas est�o tendo acesso a um diagn�stico?? adequado, ainda que tardiamente.
"N�s temos pessoas na idade adulta recebendo diagn�stico, n�s temos pessoas idosas recebendo o diagn�stico, o pode?? mudar bastante coisa. Podem mudar infinitas coisas na vida desse indiv�duo", afirma.
Foi exatamente dentro desse aspecto que o ator Victor?? se percebeu ap�s o diagn�stico que recebeu. Para ele, depois disso, muitas coisas passaram a fazer sentido.
"Acabou sendo um al�vio?? entender porque o meu c�rebro funciona assim para determinadas quest�es. Quando eu acabo entendendo essas coisas que est�o comigo desde?? a minha primeira inf�ncia, eu consigo organizar isso melhor e n�o me sentir culpado por coisas que eu n�o deveria?? me sentir culpado, ou como eu vou organizar o meu ciclo social e entender o que � importante para mim,?? e o que � importante para as pessoas que tamb�m s�o importantes para mim", desabafa.
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Estere�tipos
Victor interpretando o personagem Arthur na s�rie 'Use Sua Voz' �
: Arquivo Pessoal
Victor conta que junto com o diagn�stico?? veio o medo do preconceito influenciado pelos estere�tipos associados a pessoas autistas.
Inicialmente o ator evitou falar sobre o TEA por?? receio de como isso poderia afet�-lo no mercado de trabalho. Por�m, tudo mudou ap�s viver o personagem.
"Depois de viver tr�s?? meses com personagem que sabe que � a autista do come�o ao fim da trama e n�o tem nenhum problema?? com isso, � uma caracter�stica dele e isso n�o � tudo sobre o personagem, acabou mudando o meu ponto de?? vista sobre como eu me posiciono no mercado de trabalho e como eu me posiciono como artista", relembra.
Ainda de acordo?? com o ator, construir o personagem que traz o autismo como apenas uma das caracter�sticas tamb�m foi importante pessoalmente para?? Victor.
"Eu acho que o principal foco do Arthur, ou o foco que eu gostaria de trazer como artista, � que?? as pessoas se sintam confort�veis com quem elas s�o, com a neurodiverg�ncia delas e, evidentemente, se diagn�stico � importante para?? algu�m por que n�o ir atr�s dele?", incentiva.
Victor Ferreira descobriu diagn�stico de autismo ao interpretar personagem com o transtorno �??
: Arquivo pessoal
A psic�loga Scholz reitera a import�ncia da desconstru��o dos estigmas associados �s pessoas dentro do espectro para ser?? poss�vel dar o acesso � informa��o adequado para a popula��o.
"As pessoas autistas s�o pessoas que casam, s�o pessoas que namoram,?? s�o pessoas que t�m rela��es sexuais, s�o pessoas que t�m amizades. S�o pessoas que s�o homens, s�o mulheres, s�o pessoas?? brancas, s�o pessoas pretas, s�o todos os tipos de pessoa", refor�a.
Impactos
Como Scholz explica, um dos motivos associados ao diagn�stico tardio?? de pessoas autistas que est�o dentro do n�vel 1 de suporte � a n�o obviedade dos sinais do transtorno.
"Seria o?? autismo que passa mais batido, que as pessoas n�o conseguem ver as manifesta��es de uma forma t�o �bvia, porque n�o?? envolve, necessariamente, atraso de linguagem, nem estereotipias � que s�o movimentos motores e que ocorrem de uma forma muito repetida,?? principalmente em momentos de muita excita��o, de muita agita��o", descreve.
Por�m, com o tempo, estes pacientes passam a ter que lidar?? com quest�es sociais, que demonstram estes sinais.
"Essas pessoas crescem, s�o crian�as que [os sinais] realmente passam batido. Elas v�o crescendo?? e daqui a pouco elas se deparam com situa��es da vida adulta, que seriam rela��es amorosas, rela��es afetivas em geral,?? com amigos, at� mesmo fam�lia, no mercado de trabalho, e come�am a perceber que alguma coisa est� diferente", afirma.
Entre os?? exemplos apontados pela psic�loga est�o leituras de comportamento n�o-verbal.
"Aquela olhada que voc� d� quando voc� vai paquerar, nem sempre a?? pessoa ali que n�o domina a comunica��o n�o verbal vai compreender isso como algo que tem uma inten��o", exemplifica.
Al�m disso,?? Scholz refor�a que o diagn�stico tardio � ainda mais frequente em mulheres.
"As mulheres t�m um atraso ainda maior nesse diagn�stico,?? porque muitas vezes � confundido com outras coisas, com outros transtornos mentais, e a� vem v�rios diagn�sticos errados. Tamb�m n�o?? d� pra deixar de citar todo um aspecto social e cultural que faz com que as meninas aprendam, teoricamente, aquilo?? que lhe conv�m e n�o conv�m, os comportamentos 'adequados', como rir, baixo, sentar de determinada forma", afirma.
Al�m disso, a psic�loga?? lembra da estrat�gia do "masking", ou camuflagem, muito utilizada por pessoas autistas, especialmente aquelas que n�o possuem um diagn�stico ou?? uma clareza dos sinais.
O masking � a pessoa autista evitar certos comportamentos com o objetivo de serem percebidas como neurot�picas,?? o que, segundo a profissional, pode gerar uma sensa��o de fadiga emocional muito grande.
N�veis de suporte
Manual de Diagn�stico e Estat�stico?? de Transtornos Mentais considera tr�s n�veis de autismo �
: Divulga��o/Prefeitura do Guaruj�
O Manual de Diagn�stico e Estat�stico de Transtornos?? Mentais (DSM-5) considera tr�s n�veis de autismo, classificados com base no n�vel de suporte necess�rio:
N�vel 1 - Exige apoio leve
�?? sutil e caracterizado por dificuldades na intera��o social e comunica��o. Pode haver tamb�m a presen�a de comportamentos repetitivos e interesses?? restritos, normalmente concentrados em assuntos espec�ficos.
Pessoas deste n�vel podem ter dificuldade em iniciar ou manter conversas, interpretar express�es faciais e?? entender nuances da linguagem. Por se apresentarem de forma mais sutil, normalmente essas dificuldades n�o s�o limitantes para a intera��o?? social.
N�vel 2 - Exige apoio moderado
Neste n�vel, h� dificuldades significativas na comunica��o e intera��o social.
Essas pessoas podem apresentar dificuldades para?? se adaptar a mudan�as na rotina e necessitar de apoio extra para lidar com situa��es sociais mais complexas.
Assim como no?? n�vel anterior, pessoas no n�vel 2 podem enfrentar desafios para iniciar ou manter conversas, interpretar express�es faciais e compreender nuances?? da linguagem, podem apresentar comportamentos repetitivos e ter interesses intensos e restritos.
N�vel 3 - Exige muito apoio
Pacientes que se encaixam?? no n�vel 3 apresentam um d�ficit de comunica��o verbal e n�o verbal de forma mais percept�vel.
A pessoa geralmente possui dificuldade?? em abrir-se para intera��es sociais que partam de outras pessoas, muita dificuldade em mudan�as e comportamentos repetitivos constantes.
Al�m disso, tendem?? a apresentar um perfil comportamental inflex�vel e podem ter dificuldades em se adaptar a mudan�as.
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